Thursday, November 16, 2006

As cartas que eu escrevo - 01

Escrever uma carta, aliviar a saudade que me corrói, tentar passar o tempo, não é o motivo mais glorioso este que move meus dedos, mas o sentimento que carrego cá dentro tem boa índole.
Apesar de encontrar-me perdido e dividido entre uma desesperança mal tratante e um amor que me consome, sinto que sou uma das poucas pessoas atormentadas por esse mal da consciência... Porque poucas pessoas têm consciência.
Cada dia eu me sinto mais amargurado e menos propenso a acreditar em quaisquer possibilidades de recuperação e salvação de nossa mal fadada espécie, mas como uma incoerência da vida, vivo dias de muito amor.
Na verdade não vivo dias de muito amor, vivo muito amor, e vivo com muito amor, a minha preocupação e a minha tristeza são provas de como amo estes que não sabem e ou não podem amar.
Homens perdidos no tempo e no espaço, caminhando a espera de sua morte, porque já são mortos, ainda que não saibam apenas vivem a espera insólita daquela que acreditam ser a única certeza da vida, a morte.
Eu não espero a morte, eu não espero nada, não anseio ser rico, porque a riqueza dos nossos dias é tão efêmera que seu brilho cintilante já se apagou das minhas órbitas tão pronto reconheci sua natureza volátil.
Não sei o que sou, e não vejo porque ser alguma coisa num mundo onde ninguém é coisa alguma, onde a aparência das coisas lhes denota um sentido tão fugaz que não posso fazer mais do que rir tristemente pela superficialidade na qual nos tornamos.
Ninguém é algo em essência, somos a imagem de um mundo pré-fabricado, onde nossos artefatos e nossa indumentária definem aquilo que somos, sem deixar muito espaço para um conhecimento íntimo de cada pessoa.
Somos imagens definidas quase sempre em primeiras impressões, tão superficiais quanto à relação que estabelecemos com o mundo que criamos para nós mesmos, um mundo onde o instantâneo é à regra.
Pessoas dizem frases prontas e vivem politicamente corretas na falsa ilusão de que este é o sentido maior da vida, sem questionar os porquês, apenas alegrando-se quando assim manda a regra ou entristecendo-se pelo mesmo motivo.
Estamos tão condicionados que não somos capazes de pensar por nós mesmos, e o mundo viveria o caos se por algum motivo tivéssemos que formular juízos e opiniões que não estivessem dentro do esquete.
Felizes eram os dias em que eu não sabia de nada, noite que me aprazia e não me deixava duvidas de que o que eu vivia era o que deveria estar vivendo e de que o mundo não passava da esfera da minha consciência.
Estava certo em apenas um aspecto, exatamente o de que o mundo não passava da esfera da minha consciência, eu só não sabia que não possuía consciência, e hoje não sei que grau de consciência possuo.
Mas a historia que eu percebo continua sendo somente aquela á qual minha consciência consegue captar e sei que as fronteiras não foram muito alargadas, apenas o suficiente para que eu possa ver que a vida vai mais além.
Talvez o segredo de tudo esteja no amor, porque somente o amor pode libertar Contrariamente ao que muitos dizem que o amor é as amarras do homem penso que é o segredo desta vida.
Mais mesmo amando continuo sentindo-me dividido, entre a felicidade que possuo e a tristeza que me rodeia, e como não posso deixar de ser sentimental, me sinto incapaz de levar amor a todos os rincões.
Então me resta a dúvida: Se o destino do homem é encontrar, sentir e espalhar o amor, como devo reagir ao sentimento de impotência em realizar tão homérica tarefa em meio a um mundo de alienados?

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