Tuesday, May 29, 2007

Algumas Palavras Sobre o Amor

Não devemos preocupar-nos com a intensidade do sentimento alheio
Isso é algo que independe de nossa vontade
Devemos isso sim, preocupar-nos em dar amor na maior medida possível
Isso já é tarefa das maiores
E se o outro recebe isso, já se cumpre a tarefa do amor,
Visto que amor é dar, sem esperar em troca
Amor é devoção, amor é religião
E não troca e espera e idealização
Mas fazer simplesmente pelo prazer de amar
E saber que nisso já se está amando plenamente
Porque o amor não depende do outro
Não amamos somente se formos amados na mesma medida
Porque isso é comércio, troca, escambo o que se quiser chamar
Mas não é amor
Porque quem ama não espera
E porque não se pode dar na mesma medida
Simplesmente porque essa medida não existe
A medida de amar é amar sem medida
O amor medido é apenas o retrato imperfeito do que achamos ser justo,
Ser de bom senso, ser adequado
Mas sempre nos equivocamos, porque se buscamos medidas
Não amamos sem fronteira mas nos limitamos
E se buscamos comparar para dar
Não daremos o que verdadeiramente trazemos dentro de nós
Mas apenas uma fração e infelizmente, a pior fração
Comprometida, interessada e desvirtuada
Devemos amar sem esperar nada do outro,
Com a exceção de esperar que ele seja feliz
Porque se o outro receber o nosso amor, já será lindo
Se fizer algo motivado por nosso amor, será maravilhoso
E se der amor pelo mesmo motivo, isso será a realização
E se nesse mar contraditório chamado amor
Onde anular-se pelo outro é o que traz a nossa felicidade
Pensando na felicidade primeira desse outro,
Se mesmo em face de tamanha contradição,
Conseguimos nos libertar na felicidade de amar dando amor
Vencemos o mais difícil dos obstáculos
E ultrapassamos a nossa época e a nós mesmos,
Vencendo aos sarcásticos deuses que puseram o amor no nosso coração
Mas não nos ensinaram a amar.

Friday, May 18, 2007

Onofra

Ela passou como quem queria passar
Mas no fundo ela sempre quis ficar
Olhava para todos, com aquele olhar
Que somente quem olhou para aqueles olhos
Entende o que eu quero falar

Emanava alegria
Mesmo quando desvanecia
E com tamanha euforia
Que foi primeiro que todos
Para não ver que nenhum dos seus morria

Era feliz na simplicidade
Não gostava de ostentação
Só queria todos em sua casa
E todos lhe dando atenção

Fazia comida com amor
Temperava o frango com dedicação
Fritava pro seu velhinho
E para nós fazia o seu molhinho
Sempre tão gostosinho
Numa receita que levou com ela

Uma mulher que amava ser amada
E que sempre exigia dedicação
Mais eis que uma vil enfermidade
Lhe enfraqueceu no físico
E chegou ao mais íntimo do coração

Um lutador
Em seu âmago enfraquecido
Deixou de bater a contragosto
Já que por nós lutava
E não se dava por vencido

Ela partiu numa manhã de sol
Porque não gostava de chuva
E hoje descansa à sombra de uma árvore
Como quem dorme no sono dos justos

Mas deixou-se ficar
Porque não queria ir
No falar de um louro
Na caduquês de meu avô
Em todos os espaços da velha casa
E nos corações dos que não a deixam ir