Tuesday, February 20, 2007

Tempos depois...

Ela me perguntou se era possível
Eu não soube responder
Mas essa dúvida me acompanhou
Por muito tempo
Porque não era uma pergunta qualquer
Involucrava a totalidade e a significação
Questionava não para satisfazer-se
Nem somente para ter o que falar
Significa para ela
Uma tomada de postura
Uma luz, um caminho
Ou pelo menos um rumo
Que teria conseqüências
Em todos os atos futuros
Assim como qualquer ato cotidiano
Que não se encera em si
Mas determina as possibilidades vindouras
E a resposta que eu não ofereci
Determinou ações e reações
Marcou o nosso caminho
De maneira indelével
Nos separou em duas estradas
Voltadas a direções contrárias
E apenas hoje eu consegui
Pensar na significação daquele momento
E no peso daqueles palavras
Que com o passar das horas
Dos dias e dos meses
Transformaram-se em uma rocha
Cravada no meu peito
Quase irremovível
Asfixiando meu desejo de amar
Impedindo que eu me levantasse
Apenas hoje eu entendi
Que muito do que sou agora
Começou a esboçar-se e levantar-se
E definir-se e a obstruir-me
Depois daquela frase mecânica
Aquele gesto banal
E que eu pensava
Quase que inconsequente
Me afoguei sem perceber
Que tinha mergulhado num poço
De paredes largas e escorregadiças
Num poço no qual eu só podia me afogar
Mas como um castigo
Eu me tardei em perceber
E o sofrimento também se deu
Em doses crescentes
Uma morte interna
Lenta e sem solução
Onde o único caminho
Era apressar o trágico
Mas nem isso eu pude fazer.

No comments: